sexta-feira, 3 de junho de 2011

O luto

Nunca estamos preparados para ele. Por muito que digamos que já estávamos à espera, ele apanha-nos sempre de surpresa.

Eu nunca tinha vivido o luto de um modo tão próximo. Esta semana, o previsível aconteceu.

O meu avô foi um homem que viveu 86 anos. Com uma vida de muito trabalho, cheia de altos e baixos. Quando se reformou, há 22 anos, acabou por ter outra ocupação: eu. Recordo-me de ver o vídeo de quando fiz um ano de idade e eu andava sempre atrás dele.

Ele sempre foi uma pessoa muito fechada ao nível de sentimentos, principalmente com os familiares, mas toda a gente o recorda como sendo uma pessoa muito conversadora e que tratava muito bem as pessoas.

Viu a neta formar-se e arranjar o primeiro emprego, que foi o que sempre quis ver enquanto vivo.

Há 4 anos foi-lhe diagnosticado cancro na próstata. Resistiu a uma cirurgia e a sessões intensas de quimioterapia. O ano passado, uma gangrena de Fournier quase o levou mas ele soube dar a volta por cima. Por outro lado, o cancro começou a espalhar-se, principalmente pelos ossos.

Apesar de tudo, lá fazia a sua vida normalmente, até que há um mês e meio atrás a minha avó caiu, fracturando a anca, e foi hospitalizada. Psicologicamente, o meu avô foi muito abaixo e o cancro aproveitou para avançar cada vez mais. Caquexia, falta de apetite, cansaço, perda do paladar. Tudo se começou a apoderar dele muito rapidamente. Foi internado há uma semana.

Ainda domingo se levantou com muito custo e comeu meia dúzia de colheres de sopa, já obrigado.

Terça-feira vi-o ainda com vida. A última imagem dele com vida foi uma pessoa inconsciente, de olhar fixo e respiração ofegante. Morreu ontem de manhã.

Estas horas todas, todo este ritual, custou muito. Não se sabe o que dizer, o que fazer, o que pensar. Havia muita coisa que poderia ser diferente mas a vida é mesmo assim.

A dor apodera-se de nós e também custa muito ver sofrer as pessoas que mais amamos, muitas vezes em silêncio, como o meu pai.

Parece que nos falta um pedaço e como a minha mãe diz: "A saudade é que nos vai moendo ao longo do tempo."

Recordo-me das palavras duma auxiliar que o acompanhou nesta última fase:"Olhe que ele um destes dias ainda perguntou pelo filho e pela neta!". Ainda nos tinha no pensamento=').


Descansa em Paz, AVÔ


Artur Balouta

1925-2011 <3

2 comentários:

Carina disse...

não sei que te dizer que amenize a dor porque sei que nada a pode amenizar, diminuir. Que pouco pode ajudar e só uma coisa vai fazer com que seja mais suportável a perda: o tempo.
Mas sei que custa e não imagino o que vocês estão a passar!
Já sabes que no que eu puder ajudar estou ao dispor e muita força, para ti e para a tua familia!

Rita Balouta disse...

Obrigado Carina!! É sempre bom saber que há pessoas que nos apoiam e estão lá para todos os momentos!=)

Beijinho*